Mário Fernandez

Relevância – Vivendo o Evangelho

O próprio conceito de paz está bem abalado no nosso tempo, pois a maioria das pessoas vive atualmente em cidades. No caso do Brasil, mais de 20 capitais têm população superior a 1,5 milhão de pessoas na região metropolitana. Isso significa casas e terrenos cada vez menores, grades cada vez mais firmes, medo crescente e diversos problemas inerentes ao crescimento e concentração. Cade a paz? No nosso interior.

Se olharmos ao nosso redor não tem como termos paz alguma, entre inflação, violência urbana, assaltos, poluição de todos os tipos, congestionamentos, e até mesmo pelo esfriamento das relações entre as pessoas. Tudo contribui para que não consigamos dormir bem, não temos o merecido descanso e isso tudo rouba nossa paz.

Mas quem vive um evangelho legítimo, tão genuíno quanto simples, consegue encontrar paz em seu interior pelo simples motivo de que é o Espírito Santo que vive (dentro) que promove a paz. E este é o tipo de pessoa que, de forma relevante, contribui para que outras pessoas encontrem paz. O Príncipe da Paz luta em nosso favor, mas é preciso que isso seja vivo. Independentemente de fatores externos, é a nossa paz interior que faz de nós pessoas relevantes.

Alguns procuram ser relevantes com poder (social, político, econômico, comercial, etc), outros com influência, outros com ação social, e assim por diante. Quem realmente chama a atenção e faz diferença por onde anda não é o influente ou o poderoso, mas aquele que não se deixa abalar com que ocorre ao seu redor. É o que enfrenta enfermidade na família mas fica firme, passa aperto financeiro mas não se desespera, vive dificuldades de todo tipo mas continua dando Glória a Deus.

Não é, nem tem qualquer familiaridade com falsidade. Não é dualidade nem esquizofrenia. É fé, é paz interior que só pode vir de Deus. Vivi momentos na história recente da minha família em que enfermidades fizeram grande estrago nas pessoas, nas finanças e, de certa forma, até nos relacionamentos. Nossa capacidade de manter a paz foi testada ao limite. Foi tenso, mas serviu para testificar do Deus a quem servimos e até com o privilégio de levar nossa fé às pessoas ao nosso redor.

Viver a paz de Cristo através do Espírito Santo que vive em mim é benefício para min, e é benefício aos que me rodeiam. Mas acima de tudo, é diagnóstico de um nível minimamente profundo de intimidade com Deus.

Viver o evangelho simples e prático é encontrar paz. Não nas circunstâncias, não na capacidade pessoal nem nas pessoas que apoiam ou deixam de apoiar. No interior, de maneira invisível e individual. Isso faz de nós pessoas relevantes e demonstra um evangelho real.

Mário Fernandez

Armadura Cinturão – Vivendo O Evangelho

O termo empregado pela NVI neste texto é “cinto”, embora as traduções Ferreira de Almeida empreguem “cinturão”. Olhando para as vestimentas da época, me parece mais acertado ser um cinturão mesmo, pois era bem largo e colocado na altura dos rins. Servia para firmar a região lombar nas caminhadas e viagens montado em animal, além de ajudar bastante com cargas nas costas. Tinha lá suas fivelas e enfeites, proporcionais ao orçamento do dono, e eventualmente algum bolso. A posição é sem duvida lombar, tanto que no texto grego aparece a palavra “lombos” e algumas traduções ainda o preservam.

Pergunta: e eu com isso? Pois é. O cinturão é “a verdade” na armadura. Pensemos juntos um pouco sobre a verdade tão escassa dos nossos dias, sobre o pouco amor à ela e principalmente sobre a falta de firmeza que isso tem nos causado.

Sem estar adequadamente firmado nos lombos, facilmente caimos, desequilibramos e nos machucamos. Já se sentiu desequilibrado? Talvez literalmente, talvez emocionalmente, talvez financeiramente, talvez profissionalmente. Eu já passei por todos, mas devo ser só eu que sou meio fraco. Aliás, quem me conhece sabe que sou jeitosinho feito um alazão desgovernado e meu equilíbrio é comparável ao de um bebê de dois anos. Sim, eu desequilibro e caio, ainda que com quase 50 anos e isso desde sempre. Sim, eu derrubo coisas tanto quanto meus filhos adolescentes. Sim, eu sei, isso é coisa de tonto. Mas eu sou assim. Agora imagine se eu não andasse minimamente prevenido, tomando cuidado – estaria destruído.

Assim andam muitos ao meu redor em várias áreas de suas vidas, desequilibrando com o peso que carregam nas costas. Peso de mentira, peso de traição, peso de maldição, peso de falta de retidão, peso de falta de santidade, peso disso e daquilo. Falta cingir-se com a verdade e falta o equilíbrio decorrente. Uma coisa é estar desequilibrado por uma fraqueza ou por um excesso de peso eventual. Totalmente outra coisa é não estar preparado para carregar o que tem.

A verdade está bastante fora de moda em nossos dias, mas ela ainda é o cinturão da armadura de todo cristão, discípulo de Jesus, cidadão do Reino de Deus. Sempre o será. Sem verdade somos filhos do inventor da mentira e isso não é bom, com certeza, nada bom. O equilíbrio de nossas vidas vem do cinturão da verdade nos lombos. Viver o evangelho é viver de maneira justa, sóbria e piedosa, segundo Tito. É ter esperança. É viver pela fé. Mas como isso pode ser possível desequilibrado?

Entendo o cinturão da verdade como item de defesa na armadura, comparável às sandálias em sua simplicidade, utilidade e importância. É relevante, é indispensável. Viver o evangelho exige esta indumentária. Nosso equilíbrio exige esta indumentária. Tomemos a verdade.

Mário Fernandez

Moralidade – Vivendo O Evangelho

O texto em questão fala de maturidade e prossegue, nos versos 18 em diante, falando sobre os inimigos da cruz e seu comportamento condenável. Quero tomá-lo para meditar sobre moralidade, pois não há como separar tal aspecto do comportamento que ele gera.

Vivemos dias complicados em nosso país. O ano 2015 terminou, assim como 2016 prosseguiu, com o Brasil tumultuado, cenário de crise econômica, muito desemprego, preços subindo, oportunidades sumindo, mas principalmente um pano de fundo político dos mais tumultuados que nossa nação já presenciou. Independentemente de nossa simpatia ou antipatia pelos dirigentes da nossa nação, seus partidos suas ideologias, seus erros e acertos – o cenário é de tumulto. O motivo? Revolta, corrupção, questionamentos éticos, gestão pública suspeita. Independentemente do que seja verdade ou não, a questão é de moralidade.

Aqueles que nasceram de novo e vivem o evangelho devem demonstrar tal condição com sua moralidade. Não há como plantar um melão e colher um abacaxi. O que está na essência no homem carnal é carnal. O que está na essência do homem espiritual é espiritual, é sobrenatural, é de Deus. Portanto meu irmão, goste você de ouvir isso ou não, nossa conduta precisa melhorar e muito. Podemos concordar ou não sobre opiniões políticas, mas temos quee entender que a esperança do povo deveria estar em Deus e se não está, não há outro culpado senão a igreja.

Em todas as suas expressões, o povo de Deus reunido como igreja local deve ser exemplo de moralidade, de ensino de retidão, de correção, de ética, de conduta acima da suspeita e principalmente, de uma vida que inspira. Tem que valer a pena copiar esse povo. Tem que causar admiração. Tem que inspirar. Tem que, no mínimo do mínimo, gerar respeito.

Eu não vou comentar nem opinar sobre protestos públicos ou por midia eletrônica, mas quero fazer um comentário forte: qualquer um pode ir para rua manifestar sua opinião, mas só os cidadãos do Reino de Deus podem chamar a atenção do Rei com suas orações. Centenas de milhares de pessoas podem se aglomerar nas ruas das nossas cidades, mas só nós herdeiros de Deus podemos fazer com que Ele compareça e se faça presente reunindo dois ou mais. Um povo unido pode mudar um governo, derrubar um partido, mudar uma liderança por forte que seja. Mas nós, povo escolhido e sacerdócio real, podemos mudar o destino do mundo.

O que nos falta? Atitude, com certeza. Atitude de moralidade, de retidão, de ética, chamar a atenção para o que fazemos sem chamar a atenção para nós. Mostrar um Cristo ressurreto vivendo na Terra caminhando com meus pés, viajando com meu carro, comprando com meu cartão bancário, pregando com minha boca, curando com minhas mãos, abençoando através de mim.

Paulo teria dificuldade para escrever esta carta nos dias atuais, pois seria bem difícil apontar e dizer observem os que vivem de acordo com o padrão. Que tal começarmos, eu e você, a semear uma nova realidade? Talvez não consigamos mudar o mundo, mas vai ter um bando de gente a menos para ser criticada por aí. E mais: os que forem sendo salvos se farão um conosco. Está deixado o convite.

Mário Fernandez

Educados – Vivendo o Evangelho

Eu fui um adolescente xarope. Eu era bem gordo, bem inseguro, bem tímido, bem complicado – mas acima de tudo eu era um chato. Eu seria aquele tipo de homem adulto que jamais chegaria a lugar algum, simplesmente por não tentar de medo de dar errado. Eu tinha lá as minhas paixões, mas não lutava por elas. Eu tinha sempre um amigo (literalmente um) e de tempos em tempos alguma coisa acontecia e eu tinha de começar de novo. Não conto isso com muito orgulho, na verdade, mas é um testemunho de milagre.

Quando conheci a Cristo eu tinha meus 19 anos e tinha evoluído muito como pessoa. Um emprego me proporcionou oportunidades, mudar de escola me proporcionou aprendizado e a sucessão dos fatos foi escrevendo a história. Mas foi conhecer a graça salvadora que me educou, que me ensinou, que me doutrinou, que me adestrou. Simplesmente mudei de tal forma que nem eu mesmo me reconheço do que eu era, mas como fruto do poder de Deus em mim.

Para viver o evangelho na prática é preciso que ocorram mudanças interiores, de caráter, de disposição, de vontade, de valores. Sem olhar muito longe, em termos de tempo, os anos vão passando e o evangelho continua nos modificando. A pergunta é: como? Para que vivamos de maneira sensata, justa e piedosa.

Não podemos fugir do conceito de vida sensata sem falar de cuidado com a saúde. Vida sedentária em excesso, alimentação desregrada, estresse, hábitos viciados (incondicionalmente repetitivos), uso descontrolado de medicamentos – tudo faz parte de uma vida insensata, pois este corpo não nos pertence, pois é morada do Espírito Santo e foi comprado por alto preço. Vida sensata também é dedicar-se a quem ama. A lista poderia ser enorme, mas basta olhar para a Bíblia e ver o que é sensato para a proposta de Deus para nossas vidas. Sensatez.

Viver de maneira justa não é, no meu conceito, nem frouxo nem apertado. Demasiado frouxo não é justo. Seja na educação dos filhos, no trabalho, nos estudos, no casamento, nas relações sociais, em tudo é preciso uma certa dureza. Mas apertar demais também não é justo. Perder faz parte da vida, seja em dinheiro, opiniões, idéias, conceitos, local de férias. Desde que não seja frouxo nem apertado, será justo. Ceder pode ser justo, permutar pode ser justo, tanto quanto não ceder nem negociar. O ponteiro da justiça se chama, pasme, sensatez.

Viver de maneira piedosa, no conceito deste versículo, é basicamente praticar generosidade. Entenda-se que nada tem a ver com abundância, mas com repartir o que se tem em mãos, mesmo que seja pouco. Mesmo que não seja dinheiro, que seja só uma palavra, um ombro, um conselho, um ouvido. Piedade tem a ver com suprir necessidades, exercitar misericórdia.

Se nos deixamos ensinar ou educar pela graça salvadora de Deus, seremos transformados em semelhança de Jesus e certamente, com total certeza, viveremos um evangelho prático e relevante, que além de mudar a nossa vida vai influenciar as vidas ao nosso redor. Talvez seja isso o que mais falta na igreja de nossos dias: viver um evangelho como estilo impressionante.

Mário Fernandez

Armadura/Capacete – Vivendo o Evangelho

Os itens da armadura para mim são pouco explorados ou pouco explicados, motivo pelo qual vejo tantas pessoas dentro da igreja mas que não fazem ideia do que se trata. Também presenciei cenas de dar pena, com pessoas orando fervorosamente para “colocar” a armadura mas sem a menor noção do que se trata. Digo “dar pena” não no sentido pejorativo, mas literalmente me penaliza ver que estas pessoas são bem intencionadas e poderiam ir além no Reino de Deus, na prática do evangelho vivido cotidianamente – não me alegro na insegurança ou ignorância, meu coração de mestre grita por compartilhar.

Aqui gostaria de tomar um tempo para meditar sobre o capacete, item tão precioso e importante.

Primeiro, é necessário entender que o capacete serve para proteger a cabeça. Não é penico, não é para as costas, não protege as mãos – cabeça. Nossa cabeça é o símbolo do nosso pensamento, capacidade de tomar decisões, das memórias, lembranças, esperanças, escalas de valores e até mesmo de moralidade. Se tudo isso fica realmente na cabeça eu não sei, mas o cérebro está ali e precisa ser protegido. Nunca fui militar nem policial, mas penso que o tiro mais mortal seja na cabeça. A pancada mais fatal deve ser na cabeça. Certamente a dor mais terrível não é a da cabeça, mas dói e pode incapacitar. Resumo: a cabeça precisa e merece proteção.

Agora note a conexão que deveria ser evidente: o capacete é a salvação, dada pelo poder de Deus para todo aquele que crer. O evangelho portanto é como que o fornecedor, o entregador, o dispensador do capacete. É o evangelho que salva, pois ele é o poder de Deus para salvação. Sem o evangelho, portanto, não havendo salvação, nossa mente (cabeça) está a perigo, desprotegida, desarmada, vulnerável.

Siga esta linha de raciocínio tão simples e me responda duas perguntas bem simples:

  1. ao olhar ao redor não parece que as pessoas estão cada vez mais confusas?
  2. não temos pessoas aos montes dentro da igreja com a mente abalada?

Independentemente desta reflexão paralela, temos de considerar com seriedade proteger melhor nossa mente. Isso se faz colocando o capacete da salvação, dado pelo evangelho. Eu fiz uma listinha básica do que protege minha mente e quero compartilhar:

  • TV: escolher o que assistir, tanto em quantidade como em qualidade. Se eu assistir notícias o dia todo vou ter um surto de depressão agudo, pois tudo está complicado.
  • Internet: eu uso como ferramenta de trabalho, mas vejo gente que passa o dia simplesmente… olhando…
  • Redes Sociais: não sou adepto mas meus filhos sim. Chegam parecer ET se ficam dois dias sem olhar o Face.
  • Rodas: o Salmo 1 existe na minha Bíblia, e na sua? Olha onde se assenta, meu irmão.
  • Música: se eu escutar o dia inteiro algumas coisas que escuto na rua e na vizinhança vou dormir em praça loguinho…
  • Livros: pasmem, ainda existem livros de papel! Incrível, tem gente que não conhece isso. Minha filha devora uns 4 por mês, mas considero bom investimento (geralmente).

Vou resumir para não ocupar o resto da tela: eu escolho o que olho, o que escuto, o que leio e com quem/sobre o que converso.

Viver o evangelho é adotar um estilo de absorção de ideias – vistas e ouvidas.

Mário Fernandez

Armadura/Calçado – Vivendo o Evangelho

“e tendo os pés calçados com a prontidão do evangelho da paz.” (Efésios 6:15 NVI)

Os nossos pés, simbolicamente, nos levam pelos nossos caminhos. Digo simbolicamente pois eles não tem capacidade de decisão, que é tomada pelo nosso intelecto, mas são os pés que servem de veículo para nossa locomoção. Neste item da armadura espiritual apresentada pelo apóstolo Paulo encontramos os pés calçados justamente com o evangelho – anunciação das boas novas de salvação em Deus através de Seu Filho Jesus.

Nossos caminhos são formadores do nosso caráter, da nossa mentalidade, do nosso estilo de vida, dos nossos costumes e, obviamente, definem nosso destino. Se caminhamos para o Sul não chegaremos no extremo Norte, por exemplo. Fico imaginando se um Hitler tivesse nascido na África ou se Einstein tivesse sido brasileiro. Não consigo crer que, a despeito daquilo que eram em sua essência pessoal, chegariam à notoriedade que chegaram. Somos quem somos também por influência de por onde andamos.

Nesse mote, andar com os pés do evangelho deveria (e vai) nos definir em diversos sentidos também. Eu gosto de correr de tênis, no asfalto, mas prefiro descalço na beira da praia. Prefiro tomar banho descalço e não gosto de dormir de meias. Não dirijo carro de chinelos e não consigo usar sapato sem meia. Meus pés se acostumaram comigo, sei o que esperar deles. Meus pés espirituais igualmente estão condicionados. Se eles andam por onde o evangelho é pregado, calçados pelas boas novas, revestidos pela esperança dada pela salvação, invariavelmente eles me levarão a algum lugar definido.

Quando vivemos um evangelho prático de estilo e não de regras, talvez (certamente) não conseguiremos nenhuma ISO-9000 pelos nossos atos, mas teremos em nós algo melhor. Não precisamos evangelizar as pessoas por nenhum método específico, bastará sermos nós mesmos. Não precisamos de folhetos, basta vivermos com simplicidade. Dispensamos o palavreado igrejista, apenas transbordamos a Palavra de Deus que habita em nós (com satisfação inclusive). Não tem ensaio, é o tempo todo (full-time como gostam os mais técnicos).

É preciso que cheguemos num tempo de optar por caminhos e caminhadas por onde queremos andar. Não podemos ser levados de um lado para o outro nem por líderes de escrúpulos questionáveis nem tampouco pela indiferença. O povo de Deus no presente tempo carece de opinião própria, decisões próprias, estilo próprio e principalmente de caráter próprio – uso aqui a palavra “próprio” como sinônimo de apropriado ou pertinente. Tudo baseado nas Escrituras Sagradas, na Bíblia, na Palavra de Deus.

Viver o evangelho é adotar um estilo de caminhada, não é fazer uma lista de alguma coisa.

Mário Fernandez

Meditação – Vivendo O Evangelho

Uma característica interessante me saltou aos olhos alguns meses atrás: minha roda de amigos frequentes tem o mesmo papo, mesmo tipo de conversa, mesmos assuntos, os mesmos pensamentos (ainda que as vezes as ideias sejam divergentes). Não é coincidência, afinal tendemos a nos juntar com os que nos agradam e este é o ponto. Eu só tenho 3 assuntos na minha vida: Reino de Deus e suas coisas; familia e suas coisas; trabalho e suas coisas. Eu não sei falar de futebol, sou ruim de comentários políticos, não sou muito dado às artes, não frequento agendas sociais, não acompanho os lançamentos do cinema, mal assisto TV e francamente, pelo menos nos últimos anos, falar de notícias se tornou monótono e cansativo pois notícias boas tem sido raridade.

Isso não é nem fruto de alienação e nem tampouco displicência com o mundo em que vivemos. É que não cabe mesmo. Minha satisfação com estes 3 assuntos literalmente entupiu a minha cabeça. Já estou perto dos 50, ainda trabalho bastante, meus filhos estão saindo da adolescênciae estou constantemente envolvido com as coisas da igreja. Note que me concentrei nisso pois são as minhas maiores paixões, de longe e sem dúvida.

O texto tão conhecido do Salmo 1 faz um paralelo entre o errado e o certo, mas menciona “satisfação” ou em outras traduções “prazer”, quando fala do que faz desse homem alguém feliz ou bem aventurado. Isso é a explicação genuína e suficiente para entender, não é necessário filosofar muito mais. Eu me agrado dessas coisas portanto tomo meu tempo com elas. Isso tem um motivo.

Viver o evangelho é um estilo e não um conjunto de regras, portanto eu não fiquei intencionalmente focado nesses temas, eu apenas fui vivendo minha vida de um modo quase egoísta (no sentido de fazer o que me agrada). Deu nisso. Motivo? Essência, transformação, valores, modelagem.

O poder de Deus para minha salvação fez de mim alguém que se agrada das coisas do Reino. Qualquer reino desse mundo (e portanto o de Deus também) tem sua linguagem, suas leis, seus costumes, sua cultura, sua história, sua arquitetura, sua culinária, seus contos e mitos, seu povo (etnia) e principalmente seu governo. Se nestas coisas não estiver nossa satisfação, não vai funcionar. Não adianta ler a Bíblia porque sabe que precisa, ou porque o pastor mandou, ou porque todo mundo em redor está lendo. Pode funcionar por um tempinho, mas não dura. Só funciona se houver satisfação nisso, que pode sim ser desenvolvida.

Minha familia é minha paixão, amo ver meus filhos crescendo, descobrindo, aprendendo, rompendo, se definindo, estudando, fazendo amigos, ministrando. Lamento não ter mais tempo com eles (por enquanto), sinto falta de algumas coisas com eles, gostaria de ter dinheiro para algumas coisas – mas nada nos falta, temos satisfação em estarmos juntos mesmo na imperfeição, enfrentamos desafios juntos, venceremos juntos.

Meu trabalho é mais do que uma forma de sustento financeiro e material, eu sou apaixonado e intenso no que faço, transpiro isso e sou envolvido ao maior nível de compromentimento possível. Sou respeitado por isso, me satisfaço com isso. Obviamente, uso isso também como ferramenta de entrada e de acesso aos lugares e pessoas que como pastor eu não chegaria. Como isso não tomaria meu tempo? Imagino o desânimo e a insatisfação de quem trabalha com algo que não gosta.

Viver o evangelho é isso: é um estilo de paixão. Se suas paixões são outras, amém. Desde que o Reino de Deus esteja na lista tudo te irá bem e haverá transformação.

Mário Fernandez

Oração – Vivendo o Evangelho

Nos meus mais de 28 anos de vida eclesiástica tenho ouvido todo tipo de baboseira sobre achegar-se a Deus, inclusive com algumas práticas que beiram o exoterismo. O que resolve e o que funciona, o que tem base bíblica e teológica, o que é fato e não é ficção: VAI ORAR MEU IRMÃO.

Quando vivemos um evangelho genuíno, interior e simples de tudo, a vida de oração é igualmente simples e marcante. Sem preconceitors, sem formatos específicos, apenas um diálogo franco, aberto, sincero e natural. Falamos com as pessoas de forma adequada e proporcional ao sentimento que temos por elas. Se gritarmos com a esposa (marido) demonstramos desrespeito e falta de tato. Se falarmos asperamente com o chefe, colocamos o emprego em risco. Se estamos apaixonados nossa conversa adoça bastante. Quando temos interesse numa vaga escolhemos bem as palavras na entrevista. Quando estamos apavorados perguntamos ao médico mais do que o necessário. Pergunto: não seria assim com Deus também? Embora Ele não seja humano, Deus é um Ser pessoal e somos sua imagem e semelhança.

Devemos aprender que viver o evangelho é simplesmente conversar com o Pai como quem quer se achegar a Ele. Não é a mesma conversa de quem procura um emprego, certo? Nem precisa ser. Não é como quem xinga um fornecedor que não atendeu a contento, certo? Nem deve ser. Então como deve ser?

Deve ser uma conversa do seu jeito, no seu estilo, no seu palavreado, na sua forma. Deve ser tal como você se aproximaria de uma pessoa com quem faria amizade ou desejasse ser próxima. É simples assim. Achegar-se é aproximar-se. É desejar intimidade. Sem crítica, sem preconceito, sem fórmulas. Quem quer conquistar tem que se aproximar, tem que chamar atenção para si. No caso de uma namorada (ou candidata) o que pode chamar a atenção é uma aparência atrativa, um comportamento charmoso, atenção, bons modos, atividades em comum, interesses. E no caso de Deus, o que te parece ser o que chama Sua atenção?

Biblicamente só vejo duas coisas chamando a atenção de Deus: humildade (coração quebrantado) aplicado a um clamor; louvor (elogios) que não é nem música nem poesia mas reconhecimento e gratidão. Estas duas coisas são como um perfume que desvia o olhar de Deus para quem o busca. Experimente dedicar meia hora do seu dia a menos de qualquer outra coisa e fique apenas elogiando o Senhor pelo que Ele fez e ainda faz, pela Sua natureza e santidade, pelas promessas futuras. Só experimente.

Vida de oração é um estilo de vida, é uma constância, é uma continuidade. É tirar tempo para ter intimidade de conversa e proximidade. Mas também é aproveitar cada minuto dirigindo sozinho, andando pela rua, qualquer possível perda de tempo. Isso é produto de uma decisão clara e consciente e, principalmente, de um desenvolvimento.

Viver o evangelho é manter e preservar um estilo.