Mário Fernandez

Intimidade – Vivendo o Evangelho

“Não lhes dizia nada sem usar alguma parábola. Quando, porém, estava a sós com os seus discípulos, explicava-lhes tudo.” (Marcos 4:34 )

Quanto mais eu ando com Deus, quanto mais eu leio a Bíblia, quanto mais eu congrego com o Povo de Deus, quanto mais eu oro, quanto mais eu escuto pregações da Palavra – pior fica meu quadro. Mais desgraçadamente pecador me sinto e mais nitidamente distante estou do Santo-Santo-Santo. A exposição ao Reino de Deus parece ser meio “radioativa” para mim, me afetando direta e instantaneamente, mas também retardadamente, imediato mas prolongado. Cada vez mais percebo que sou nada mais nada menos do que “eu” e que o Deus a quem eu sirvo é o que é. Mas também, na mesma intensidade, percebo o interesse e o foco Dele em me fazer compreender o valor do tempo a sós com Ele.

Este versículo saltou-me aos olhos numa leitura diária, numa manhã de domingo, enquanto a família ainda dormia e eu desfrutava do silêncio do começo do dia, sem qualquer pretensão extraordinária. Veja que para a multidão Jesus destinou parábolas, mas para os íntimos explicou. Não são dois pesos e duas medidas, são duas situações diferentes para dois povos diferentes. Assim como se pode comprar uma casa pelo valor de R$200.000 até R$10.000.000 – mas serão casas diferentes.

Falar por parábolas é ensinar, sim. É dar o que se pode receber, o que se pode usar. É como fazemos com nossas crianças de 6 ou 7 anos de idade. Contamos histórias, mostramos letrinhas soltas, palavrinhas novas. O ensino está ali, a base está ali. Mas o significado filosófico de uma palava que toda criança conhece como “mãe” por exemplo, só lhe fará sentido na vida adulta. Para algumas infelizmente nunca fará o sentido que deveria.

Sei que vai soar impopular, mas lá vai – é mais importante estar a sós com Jesus do que qualquer outra coisa. Nunca me aconteceu, mas imagino minha reação se um dia um discípulo meu me procurar dizendo algo como “irmão me perdoe que não fui no culto ontem, mas eu estava orando a sós e me empolguei, passou longe da hora”. Penso (creio) que vou começar tendo inveja, depois eu choro. Bem, vou chorar com certeza. Querido, isso é tudo que temos de diferente dessa multidão que perambula pela Terra como ovelha que não tem pastor. Milhares de milhares de almas que flutuam de igreja em igreja, ocupando cargos, fazem coisas, entregam dízimos, fazem orações, cumprem os procedimentos, mas não vivem a parte mais exclusiva e importante do verdadeiro Evangelho – a intimidade com Jesus.

O evangelho não é um conjunto de regras, é uma caminhada a sós com o Cristo de Deus, Jesus de Nazaré, em intimidade e aprendizado direto da fonte, que resulta num estilo de vida. É um mistério, pois todos nós podemos caminhar a sós com Ele ao mesmo tempo, mas o Reino é assim mesmo. Eu consigo compreender a correria dos nossos dias, tenho dois empregos. Eu consigo compreender a dificuldade de ouvir tantas vozes se dizendo certas. Eu consigo compreender os desafios de uma vida de santidade, eu sou de carne e osso. Mas se meu dia não tem pelo menos alguns minutos para ficar calado tentando ouvir as explicações, tudo que aprendo será figurativo. Negligenciar o tempo a sós com Deus seria sentenciar sua vida à uma prisão na qual vai gastar todos os seus dias sabendo o que quero de Deus, sem jamais sequer suspeitar do que Ele realmente quer de mim.

Vamos nos unir em torno do que quisermos, mas somente depois de tirarmos um tempo a sós com Ele. Que sejam 5 minutos, mas que tenham qualidade. Que sejam mais e mais minutos, com o passar do tempo, pois o benefício é unicamente nosso – pois Ele não será mais Deus do que já é.

“Senhor, me perdoa por negligenciar o tempo a sós contigo, retirado das multidões. Me ensina a organizar minha vida e meu tempo para que eu consiga crescer na Tua presença aprendendo diretamente de Ti.“

Mário Fernandez

Perfeição Coletiva – Vivendo o Evangelho

“Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês” (Mateus 5:48)

Eu fico sempre muito atento ao que Deus espera de mim, me manda fazer ou claramente é obrigação minha. Toda ordem Bíblica para mim precisa ser levada muito a sério independentemente de contexto ou época. Eu considero, pessoalmente, que o contexto e a época se referem ao “como” obedecer, mas não tem qualquer relação com o grau de seriedade com o qual devo obedecer. Em miúdos, podemos discutir “como” mas não discutimos “se”. Daí me deparo com este versículo que diz para fazer o impossível, pois jamais serei perfeito – no meu conceito de perfeição.

Mas daí a bondade de Deus se manifesta em tempo útil e para edificação, como era de se esperar com aqueles que o buscam com sinceridade e humildade. Eu estava num culto “normal”, sem qualquer particularidade, pregador nem era o pastor da igreja e de repente no meio de um assunto que não tinha nenhuma conexão aparente – bingo. Vamos usar um pouco de entendimento.

Considerando que Deus não é burro nem nada parecido com isso, assim como também não tem interesse em nos confundir, temos de olhar para o todo da Palavra revelada – a Bíblia. Eu creio sinceramente que esta perfeição é coletiva, ou seja, a soma das minhas imperfeições com as suas e as dos demais irmãos, gera uma espécie de cobertura destas imperfeições. Me permita explicar.

Eu tenho dom de mestre, o que significa que consigo pegar uma idea e fazer dela uma aula expositiva, clara e que pode ser não apenas aprendida como também praticada. Nem todo mundo é assim ou tem essa capacidade. Já no quesito de evangelismo, eu tenho um desempenho fruto de esforço e dedicação mas não é fluído ou fluente como vejo alguns irmãos ganhando gente enquanto abastece o carro por exemplo. Se somarmos estes dois perfis, temos dons de mestre e evangelismo no melhor ponto da curva. Daí tem um abençoado que conheço que ama de paixão visitar velórios e funerárias para falar do evangelho, coisa que eu só faço com gente conhecida e ainda assim faço em sofrimento. Se somarmos os três, temos um perfil fantástico. Me fiz claro? Consegue imaginar isso?

Então, olhando deste ponto de vista, podemos obviamente entender que a perfeição pessoal é um alvo que devo perseguir mesmo sabendo que não o alcançarei plenamente. Mas é um compromisso pessoal, pois o que eu conseguir servirá para cooperar para que a soma com os demais seja plena. Se eu, mesmo que lentamente, aumentar meu grau de perfeição naquilo que faço, somar-me aos meus irmãos com a mesma intenção e com o mesmo esforço, poderemos ser “perfeitos” ainda que nenhuma das partes seja “perfeita”. A soma dos imperfeitos nos fortalece e nos aperfeiçoa. Isso, meu querido, é viver o evangelho em grupo.

Não consigo deixar de pensar que esta soma de esforços, quando se reúnem as pessoas cuja intenção é aperfeiçoamento, poderia até ter um nome. Sei lá, talvez “culto” ou “celebração”. Acho que li isso em Efésios 4:16.

“Senhor, não quero ser negligente para o dom que me deste, mas não é com ele que serei perfeito como Tu ordenaste. Me ensina a somar com meu irmão em amor para juntos aumentarmos nossa perfeição coletiva diante de Ti.“

Mário Fernandez

Dependência – Vivendo o Evangelho

“Eu sou a videira; vocês são os ramos. Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma.” (João 15:5)

No minimo interessante essa colocação de Jesus, como sempre, nos levando a refletir além do óbvio (mas sem deixá-lo de lado). Dependemos dele como um ramo depende da árvore, neste exemplo uma videira (de onde se colhem uvas). Se for cortado, o ramo em algum tempo seca, e jamais dará frutos. Somos muito mais dependentes do que pensamos ou admitimos.

Mas igualmente interessante é olhar que, se permanecer ligado à árvore, não apenas daremos frutos, mas daremos ‘muito’ fruto. Vemos pessoas que pouco ou nada produzem para o Reino de Deus e o discurso varia entre “Deus é quem sabe” e “talvez não seja tempo” enquanto outros produzem muito com até mesmo menos recursos. Refiro-me a qualquer fruto que possa ser produzido para Deus – almas, reconciliações, santidade, restauração, libertação, cura, qualquer coisa que glorifique a Deus sem dar brilho para o homem é fruto espiritual.

Será que não estamos trabalhando demais ‘para’ Jesus sem estarmos Nele ligados? Será que não é a força do nosso braço, as tradições, os costumes, as teorias, as teologias, a racionalidade, o mundanismo, o materialismo, as estratégias, o egoísmo, a ganância, a sede desenfreada de poder e conquista? Será que não são essas coisas que estão produzindo algum resultado no nosso meio? Talvez, pois todas elas são produtivas e no mundo têm seu valor – mas nós não devemos usar nada disso pois nem pertencemos a este mundo, devemos ser mais espirituais que isso.

A inércia é um fenômeno poderoso. Define-se como “propriedade da matéria que faz com que ela resista a qualquer mudança em seu movimento” ou num português mais simples “se está andando continua andando, se está parado continua parado”. Esse efeito nos colocou num rumo em que, temo, tenha se tornado nossa camisa de força no Reino de Deus. O culto tem um formato, não pode mudar. Temos horário a cumprir, Deus que deixe para curar amanhã. As técnicas de evangelismo são essas e não aquelas. Precisamos de estratégias e organização. Nada disso é ruim em sua essência, por favor me entendam, mas nada disso é espiritual.

Galho ligado à videira é galho que ora, que chora, que geme, que intercede, que busca, que sabe dizer não, que se esforça, que se sacrifica, que reparte, que perdoa, que anuncia as maravilhas do Reino, que se orgulha de ser cidadão do Céu, que faz o que Deus manda mesmo sem ter ‘qualificação’, que abre mão de seus direitos se for necessário, que nega a si mesmo… como não dar fruto vivendo assim?

Talvez o que não nos demos conta ainda é que para estar ligado à Ele temos que desligar de nós, do mundo, dos valores mundanos. Corte o galho do ego e dos caprichos, meu irmão. Eu tenho tentado, tenho me empenhado e algo tem começado a acontecer. Misericórdia, deveria ser muito mais.

“Senhor, eu quero me ligar mais à Ti. Me fortalece e me ensina a simplificar minha vida e encontrar formas e meios de me ligar mais e mais Contigo e menos comigo mesmo.“

Mário Fernandez

Sinais – Vivendo o Evangelho

“Mas se as realizo, mesmo que não creiam em mim, creiam nas obras, para que possam saber e entender que o Pai está em mim, e eu no Pai”.(João 10:38)

Nós estamos habituados com sinais em nossa cultura ocidental, nas mais diversas situações. Um apito que encerra um jogo, um aplauso que expressa aprovação ou elogio, um sorriso que mostra felicidade, uma luz vermelha que nos faz parar, uma sirene que nos tira da frente da viatura, uma placa que nos impede de prosseguir numa via, até mesmo uma arma apontada para nosso nariz nos faz levantar as mãos. Conhecemos muitos sinais. Isso não é de hoje, não começou hoje, não é apenas para hoje. Fomos treinados por gerações e gerações e mesmo estes sinais cotidianos evoluiram. O recado central é que temos capacidade de entender sinais e interpretá-los para viver.

Pois bem, isto posto temos de classificar os sinais em visuais ou visíveis, auditivos, perceptivos e sensitivos. Os visuais são os que vemos com os olhos, como um semáforo que fica vermelho e paramos o carro. Os auditivos são os que ouvimos, como um apito de um guarda. Os perceptivos são aqueles mais subjetivos, como a famosa “cara de criança mentindo” que não está tão cientificamente mapeado, mas dá para perceber. Os sensitivos são os que vem das nossas sensações como calor, frio, vibrações, cheiros – um cheiro de podre no ar é um sinal para tirar o lixo, por exemplo.

Este texto bíblico nos ensina que Jesus dava todos os tipos de sinais necessários para mostrar quem era e quem O havia enviado ao mundo. Note que havia sinais tão visuais quanto uma tempestade se acalmando, ou um escurecer do dia no meio do dia. Havia sinais audíveis como ordens a demônios que obedeciam. Havia pessoas se dizendo libertas ou curadas mesmo que a medicina da época não pudesse diagnosticar. Havia todo tipo de sinal, mas eram todos com um único propósito.

Se somos imitadores de Cristo e cremos na promessa de que “obras maiores faremos”, os sinais são algo inevitável assim como seu objetivo. Não faremos sinais para nosso engrandecimento, nem para ter nosso ministério afamado ou reconhecido, muito menos para encher nossas igrejas. Nem mesmo o eterno clichê de “foi por amor às pessoas” vai servir. Os sinais serão legítimos e darão resultado quando visarem fazer Jesus conhecido e Seu Pai como quem o enviou. Nem mais, nem menos.

Viver um evangelho genuíno e autêntico, como estilo de vida do Céu, é não ser egoísta nem soberbo. Pelo contrário, é viver pelo estilo “diminua eu”. Os sinais podem chamar atenção para mim ou para Ele. Eu decido isso. Agora, me responda sinceramente: de que adianta dissertar tudo isso se os sinais não se manifestarem? Bom, isso é assunto para outra hora.

“Senhor, eu quero manifestar sinais que sejam Teus, que apontem para Ti e que glorifiquem somente a Ti. Me ensina a viver de modo que minha vida, minha conduta e meu caráter sejam o maior sinal.“

Mário Fernandez

Pureza – Vivendo o Evangelho

“Para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.” (Efésios 5:27)

Vivemos dias de muita confusão, ensino raso, polêmicas se multiplicando exponencialmente, músicas de conteúdo duvidoso (às vezes nem isso), pessoas em quem não se pode confiar. É uma festa, mas não no bom sentido da expressão. Por outro lado as estatísticas dão conta de um crescimento numérico extraordinário no meio eclesiástico, igrejas construindo estruturas de reunião nunca vistas (e lotando-as) e uma crescente figura pública de algo chamado “igreja evangélica”. Parece incoerente, pois uma coisa deveria estar intimamente ligada com a outra.

O que tem isso com o texto escolhido? Pois é…

Vemos que pelos números o povo evangélico está crescendo, mas a noiva de Cristo não está se preparando. Uma noiva gloriosa significa brilhosa, radiante – que deveria clarear esse mundo em trevas. Sem mácula significa sem defeito, sem nada feio, sem cicatriz, sem machucado, sem arranhões. O próprio texto explica como santa (separada) e irrepreensível (não tem do que reclamar). O que vemos, no entanto, é preocupante.

A pureza esperada pelo Noivo está muito acima dos padrões apresentados atualmente. Isso vem de uma série de situações, mas não quero ser teórico nem filosófico, quero ser bíblico. Um versículo antes, Paulo diz aos Efésios que a santificação e a lavagem são dados pela Palavra. Ou seja, somos numericamente cada vez mais, porém sabemos cada vez menos de Bíblia. Para mim faz todo sentido, principalmente ao olhar ao meu redor.

Não sou dos que defendem que todos devam estudar, no sentido escolástico tradicional, embora eu considere que isso seja uma coisa muito boa, muito importante e que, se for possível, estude para mais e não para menos. Mas reconheço que nem sempre é possível. Mas sou sim dos que defendem que TODOS, sem exceção alguma, devem estudar as Escrituras continuamente. Mesmo o mais analfabeto pode pedir ajuda, mesmo o mais atarefado consegue tempo, mesmo o mais lento de aprendizado consegue ir um pouco adiante. Não vejo como opção, mas como requisito para formar a noiva que o Cordeiro espera.

O que está acontecendo em nossos dias é uma explosão de bolha – não tem nada dentro. O conteúdo sumiu e não estamos suficientemente empenhados em recuperá-lo. Eu tenho dedicado meus dias a aprender e ensinar a Palavra de Deus fazem quase 30 anos e às vezes me sinto um salmão tentando subir a cachoeira. Nem por isso vou desistir, mas tem dias que são ingratos. Espero minha recompensa na eternidade e não nesse mundo, mas temo por esta geração que pensa que sabe tudo, mas não se dedica ao que realmente importa.

A pureza da Noiva não é opção e só vem pela lavagem com a Palavra. Vamos voltar às bases: leitura, meditação, estudo, compartilhamento, aulas, temos todos os recursos. Do contrário, como disse, temo por esta geração que pensa ser noiva e na hora das bodas descobrirá, desafortunadamente, que nem convidada foi.

“Senhor, ajuda-me a desejar mais a Tua Palavra no meu tempo, na minha mente, na minha memória e na minha vida. Eu é que preciso disso, sei que o Senhor é Deus.“

Mário Fernandez

Dons – Vivendo o Evangelho

“Irmãos, quanto aos dons espirituais, não quero que vocês sejam ignorantes.” (1 Coríntios 12:1)

Deixando de lado a milenar rusga entre pentecostais e não-pentecostais, todos que se intitulam “povo de Deus” reconhecem que Deus concede dons aos seus, para servir de uma ou de outra forma. O que me preocupa e me chama a atenção é, de fato, que o apóstolo Paulo escreveu claramente que não devemos ser ignorantes.

Eu já vivi meus quase 30 anos de evangelho em grupos diferentes com percepções e crenças diferentes sobre este assunto. O que mais me dava arrepio sempre foi a sombra da dúvida. Sabe aquela coisa “e se eu estiver errado” que sempre me perseguia. De uns anos para cá, versículos como este me libertaram do peso e me fizeram mais frutífero no Senhor por um motivo muito simples de entender: eu não preciso me preocupar, preciso é ser fiel!!

Vou explicar melhor: quando Paulo diz para não ser ignorante, está querendo dizer para ser informado, para estudar, para saber, para crer. Nesta condição, eu terei opinião formada sobre o assunto dos dons e portanto poderei crer no que entendo. Se eu tiver opinião formada e agir de forma condizente com isso, estou sendo fiel – e é isso que Deus quer de mim.

Nesta perspectiva, não é estar certo que conta, mas o quanto me dedico e com que intensidade me dedico ao que eu creio. O uso dos dons e sua forma de manifestação não tem unanimidade, mas ser ignorante é não saber de que lado ficar. Meus filhos, a respeito dos dons eu quero que saibam em que creem e sejam fiéis a isso – seria minha tradução livre para este versículo.

Podemos ter certeza de que todos os dons apresentados por Paulo, principalmente neste capítulo, apontam para unidade e edificação da igreja como Corpo de Cristo na Terra. Eu contei 11 versículos neste capítulo que expressam ou sugerem claramente esta ideia – ora, sendo assim não praticar meus dons espirituais seria no mínimo egoísmo.

Não importa qual seja o dom, não importa qual seja a forma que eu o entenda, não importa como vou praticá-lo – tudo que importa é que eu seja dedicado, sincero e fiel a Deus através desse dom. Viver assim é viver o evangelho e não apenas seguir regras.

Já se perguntou porque temos tantos tipos e formas de igrejas em nossos dias? Para mim é a oportunidade para que todos possam se encaixar… usando seus dons!

“Senhor, não quero ser ignorante nem negligente com o que Tu quiseres me dar como dom. Me ensina a Te servir de forma fiel ao que creio e da forma como creio. Aumenta minha fé.“

Mário Fernandez

Obediência – Vivendo o Evangelho

“Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele”. (João 14:21)

Ontem tomava um café com um pastor a quem amo muito e falávamos do nosso assunto favorito – o Reino de Deus. Este homem tem uma percepção peculiar das coisas sobrenaturais e, se dependesse de mim, eu passaria meus dias com ele tratando disso. Claro, temos mais algumas coisas a fazer e fazem parte da vida que Deus nos deu. Mas justamente este foi o ponto que mais me chamou a atenção: o que deve tomar nosso tempo? A que devemos nos dedicar?

É imperativo obedecer a Deus em Sua vontade, que aliás e antes que eu esqueça de mencionar é boa/agradável/perfeita. Mas de uma maneira bem simples, podemos entender a vontade de Deus dividia em dois grandes grupos de efeito didático. Quero deixar registrado que tenho formação teológica e conheço perfeitamente os pontos teologia sistemática que tratam da vontade de Deus. Opto por simplificar dizendo assim: há mandamentos gerais e há os específicos.

Os gerais ou genéricos são aqueles que se aplicam a todas as pessoas, a exemplo de “sede santos” ou ainda “orai sem cessar” – como sabemos? Pelo texto bíblico. Foi dito para quem, em qual contexto, em que cenário? Interpretação básica e simples. Para estes mandamentos se aplica o texto de João 14:21, ou seja, quem obedece demonstra amor a Jesus. Portanto, qualquer mandamento destes deve ser obedecido sob pena de comprometer o relacionamento com Deus.

Os mandamentos específicos são aqueles que se aplicam a uma pessoa ou grupos determinados – nem todos serão pastores ou mestres, um ou outro deverá ir especificamente ser missionário na Africa ou na China. Estes mandamentos devem ser igualmente obedecidos, igualmente sob pena de comprometer o relacionamento com Deus. Penso eu, de modo muito convicto, que estes mandamentos específicos são mais comprometedores, ou seja, eles abençoam mais e exigem mais responsabilidade, mais comprometimento e mais obediência. Cada um de nós, portanto, precisa/necessita entender o que Deus espera de nós – individualmente. Não é viável praticar um mandamento que não se conhece, não se entende ou não se submete.

Neste ponto gostaria de dar meu testemunho. Para glória de Deus estou vivendo um momento profissional em que estou com um rendimento um pouco acima do que preciso para viver. Não é nenhuma fortuna, mas é um excedente. O que fazer com esse dinheiro? Para alguns talvez subir o padrão de vida, para outros ofertar para missões, para outros guardar para a velhice, para outros comprar uma casa. Eu sei EXATAMENTE o que Deus quer que eu faça com esse dinheiro. Se fossem milhões talvez eu não entendesse, não concordasse, mas estou sendo obediente. Não dá pra comprar uma casa, mal daria para trocar de carro – mas eu não preciso, tenho convicção do que fazer, portanto resta obedecer. Em outras áreas da minha vida eu tenho buscado entender e obedecer, mas não está fácil…

Meu amor a Deus e Seu Reino deve ser demonstrado pela obediência aos mandamentos, pois isso é viver um evangelho como estilo de vida e não como conjunto de regras.

“Senhor, eu quero fluir na Tua vontade, quero que ela funcione na minha vida. Ajuda-me a viver sabendo o que queres de mim.”

Mário Fernandez

Unidade – Vivendo o Evangelho

“Para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste.” (João 17:21)

O mundo nos colocou numa tal correria, numa tal agenda cheia, num tamanho sufoco, numa tal sobrecarga, que isso se tornou nossa prisão. Durante anos tenho ouvido pregadores falando que esta geração não tem tempo para Deus, não tem vida de oração, não lê as Escrituras, não se dedica a Deus, tudo por falta de tempo (ou alegações deste tipo). Não é mentira, estou certo disso.

Mas nestas meditações da noite, que no meu caso são geralmente longas e solitárias, percebi que o mundo minou algo que deveria ser importante. A igreja dos nossos dias é sem sombra de dúvida a mais desacreditada de todos os tempos. Já houve épocas em que não se cria em Deus, não se ouvia falar de Cristo, não se tinha Bíblia para ler. Resolvemos isso historicamente e agora o povo de Deus é mais um na lista do noticiário com pastores que roubam dinheiro, bispos que engravidam secretárias, apóstolos que enriquecem, membros que não pagam suas contas – é só mais uma casta social, um gueto, um facção, qualquer coisa menos sal e luz. Por quê? O que nos levou a isso?

Na minha humilde opinião como servo de Deus, a correria nos colocou nos trilhos da indiferença e isso se tornou nossa prisão, pois eu não tenho tempo de me importar com mais ninguém. Com isso, a oração de Jesus no versículo acima simplesmente não se cumpre, mesmo passando séculos e séculos. Como vou ser um com meu irmão se tenho tanta coisa para fazer? É tanta correria, tanto trabalho, tanta informação, tanto de tanta coisa que não tenho tempo. Mas deveria ter. Deveria estar no cardápio.

Investir tempo em unidade do Corpo de Cristo é parte da nossa missão na Terra, e tristemente vejo pessoas dedicando sua vida a projetos missionários em lugares distantes e difíceis, passando sofrimentos, se gastando – mas não tendo unidade com ninguém. Pergunto-me se não estão é fugindo da “missão” mais difícil de todas: ganhar nossos irmãos de fé não para o evangelho (eles já são da fé) mas para nosso relacionamento em unidade. Imagine o desafio de ter que suportar essa gente toda ao seu redor como se fossem da sua própria carne e sangue.

Talvez eu esteja sensibilizado por algo em particular, mas creio que Deus está nisso. O mundo não está crendo que somos de Deus, estão nos vendo como mais uma das opções de religião. O versículo acima explica isso. Lembro do segundo mandamento com certo constrangimento ao pensar nisso. Sabe, aquele que ajuda a resumir a Lei e os Profetas e fala sobre amar ao próximo…

“Senhor, tenha misericórdia de mim. Meu egoísmo me coloca numa correria tal que não estou em unidade com meus irmãos e nem investindo nisso. Socorro, isso precisa mudar. Ajuda-me!“