Mário Fernandez

Emudecer

“Porque assim é a vontade de Deus, que, pela prática do bem, façais emudecer a ignorância dos insensatos; como livres que sois, não usando, todavia, a liberdade por pretexto da malícia, mas vivendo como servos de Deus.” (1 Pedro 2:15-16 ARA)

Esse nosso mundão está perdido, como diz um amigo meu, na escuridão sem luz. A cada dia a gente vê mais violência, mais doença, mais relacionamento rompido, mais e mais safadeza institucionalizada e por aí vai. Não fosse isso suficiente, uma parte das igrejas se contaminou com este mundo de tal forma que a Bíblia nem é mais fonte de referência e muito pouco é lida. O que nos resta para dar esperança?

Nos resta, meu querido leitor, aquilo que sempre tivemos. Nos resta viver de modo diferente, distinto, incomum. Viver de modo digno do evangelho que cremos e pregamos. Não para ser recompensado por Deus por isso, pois não é assim que funciona. Não para agradar a líderes ou para ser popular. Mas sim para cumprir a vontade Daquele que nos chamou e nos transformou em resgate de uma morte literalmente infernal. É um ato prático de gratidão e não uma teoria teológica, um pensamento bonito. É o arregaçar das mangas e fazer tudo que estiver ao alcance para ser reconhecido publicamente com alguém que serve a Deus. Isso emudecerá a ignorância dos insensatos.

Note apenas um detalhe: ser cristão em nossos dias, ou evangélico que é a palavra mais em uso, virou sinônimo de frequentar uma igreja ou ter vínculo com alguma denominação. Meu querido, não caia nesse engano. O mais importante é o menos enfatizado e praticado. O evangelho é baseado em cruz, em sacrifício e em renúncia. Não é baseado em cura, prosperidade, comunhão, manifestação de poder – embora tenha tudo isso, e eu confesso gostar de tudo que é do Reino. Mas nada disso é a base, a base é sacrificial. Essa base muda nossa prática.

Se a base é importante, demonstrá-la é igualmente importante.

“Pai, quero viver de modo compatível, digno e apropriado ao Teu chamado para mim, seja servindo a Ti num ministério eclesiástico ou apenas vivendo para Ti no dia-a-dia. Ajuda-me.”

Mário Fernandez

Mário Fernandez

Anônimo

“Então, propuseram dois: José, chamado Barsabás, cognominado Justo, e Matias.” (Atos 1:23 ARA)

Se alguém puder me ajudar eu agradeço. Procurei intensamente e não encontrei nenhuma menção de Matias antes desse versículo, nem com nomes equivalentes (era comum na época ter dois nomes). Pelo menos na Bíblia não encontrei nada. Quem era esse irmão e para onde foi depois disso? Tão anônimo era antes quanto ficou depois, pois some no verso 26 e não se encontra mais.

Se lermos os versículos 21 e 22 vamos ver os critérios de escolha que apontaram para Matias e então aprendemos algumas riquezas. Ele andou com Jesus desde o início e testemunhou sua ascenção, desde o batismo de João. Ou seja, era um daqueles que sempre esteve ali mas nunca se destacou.

Meu irmão, eu já perdi ovelha na igreja por muito muito menos do que isso. Por não ter mais um cargo, por mudarem os tapetes, por cada coisa simples. Esse Matias não era um dos 12, talvez fosse o 13º ou o 70º dos 70, mas estava lá e não desistiu. O dia dele chegou, afortunadamente, mas poderia nem ter sido ele o escolhido e sim o tal do José Barsabrás, que, por sinal, preencheu os mesmos requisitos e não foi escolhido. Meu Deus, os caras estavam lá fazendo tudo certo e ficaram anonimos, totalmente despercebidos dos historiadores, sem qualquer registro ou reconhecimento.

Querido, isso me ensina muito, mas muito mesmo, sobre humildade e foco. Se fazemos as coisas para nossa satisfação ou alegria das pessoas, desistiremos. Não importa se somos reconhecidos, se alguém nos agradece, se temos cargo, se somos remunerados, se há qualquer coisa que nos tire do anonimato. NAO IMPORTA. Se estamos bem com Deus e focados na missão, basta seguir em frente. Eu comecei escrevendo devocionais para uns 200 assinaturas que hoje são milhares e confesso que, às vezes, recebo 8 ou 9 comentários de quase 70.000 pessoas. Não importa, o recado está sendo dado e a voz do Espírito no meu ouvido continua dizendo “não pare”.

Meu irmão, ouça isso: não pare por falta de reconhecimento. Esqueça as opiniões das pessoas e faça para Deus.

“Pai, obrigado por que o Senhor é o que me basta tanto para ser reconhecido como para prosseguir. Só dependo de Ti. Se o Senhor estiver comigo eu prossigo.”

Mário Fernandez

Mário Fernandez

Sombra

“a ponto de levarem os enfermos até pelas ruas e os colocarem sobre leitos e macas, para que, ao passar Pedro, ao menos a sua sombra se projetasse nalguns deles.” (Atos 5:15 ARA)

Meu querido leitor, eu me converti a Jesus Cristo em 1987 e sempre fiquei intrigado com essa história da sombra de Pedro curar enfermos. Esse homem era um dos improváveis da lista e fez tanta coisa inadequada e imprópria que chega a dar dó. Não em ordem cronológica, mas negou a Jesus, cortou orelha de soldado, falou besteira e ouviu “arreda Satanás”, não queria que lavasse seus pés, pediu para fazer tenda no monte, afundou andando sobre as águas e por aí vai. Era um sujeito complicado, briguento, iletrado e cheio de defeitos. Me lembra muito um cara que eu vejo de manhã no meu banheiro, ao espelho.

MAS, após uma experiência maravilhosa no dia de Pentecostes, esse irmão aparece num cenário absolutamente inalterado se comportando e produzindo de forma totalmente distinta. Nada mudou ao seu redor, as pessoas eram as mesmas, as situações eram as mesmas, Jesus nem estava mais ali fisicamente. Mas ele não era mais o mesmo, algo nele mudou e o fez ser o que Deus queria dele.

Essa é a virada que todos nós devemos experimentar. Passar de alguém que anda com Jesus, convive com Jesus, ouve Jesus e até ama Jesus sinceramente, para a condição de alguém que faz o que Jesus fazia como um seguidor deve fazer. Ser o Pedro dos evangelhos não é difícil e infelizmente há centenas nas igrejas, mas ser o Pedro do livro de Atos tem sido demonstrado por poucos.

O que nos falta? Disponibilidade do Espírito Santo não é, gente perdida para ser alcançada também não, Palavra revelada de Deus não é, então o que nos falta? Falta a coragem que Pedro sempre teve? Falta um toque de Deus? Falta entendimento do que já recebemos? Ou será que falta vergonha na cara?

Meu querido, talvez nenhuma destas coisas, ou todas elas, ou um pouco de cada. Mas claramente: descubramos e partamos para fazer o que Deus espera de nós. Despertemos o Pedro de Atos de cada um de nós, antes que venha o Senhor.

“Senhor, obrigado por me alertar de minha condição. Não quero ser só mais um que anda junto e fala bobagem, quero agir e fazer tudo que o Senhor tiver para mim. Ajuda-me, sou fraco e dependo de Ti”.

Mário Fernandez

Vinicios Torres

Ensinando os Filhos

“Ensina a criança no caminho em que deve andar, e, ainda quando for velho, não se desviará dele.” (Pv 22:6 ARA)

Estava estudando este versículo e notei uma coisa interessante. A maioria das traduções diz “ensina a criança”, que dá um sentido genérico de gênero. Mas o texto original diz “ensina o menino” ou “ensina o jovem”, aquele que está na fase de transição para a idade adulta. Nos nossos tempos modernos, chamamos de adolescentes.

Algumas traduções em inglês traduzem o verbo “ensinar” por “treinar”. Não é apenas o ensino teórico mas o acompanhamento da prática da vida diária.

A ideia do autor bíblico é que os pais (homens) deveriam ensinar, por meio do treinamento, os seus filhos (homens) a viver. Deveriam ensiná-los a trabalhar, tornar-se exímios em sua profissão, fazer os negócios com honestidade, cuidar responsavelmente de suas famílias. Ou seja, treiná-los para serem homens íntegros e produtivos. Este é o pressuposto do versículo (na verdade de todo o livro de Provérbios), pois ele adverte que, uma vez aprendido, não haverá desvio desse padrão.

Infelizmente, a pressão dos padrões mundanos faz com que fiquemos tão sobrecarregados que, como consequência, somos levados a deixar de lado o padrão bíblico. Delegamos à escola a educação moral e profissional de nossos filhos. Você acha que lá eles serão “treinados” para a vida com esse padrão de excelência? Você acha que a escola se preocupará especificamente com o seu filho? (Por melhores que sejam os profissionais e suas intenções, esta não é a função deles).

Pergunte a qualquer psicólogo ou educador e ele confirmará: as crianças aprendem muito mais por imitação do que por discurso. A Bíblia não apenas confirma isso mas nos adverte a usar esse princípio trazendo nossos filhos para aprenderem a viver da mesma maneira que nós vivemos.

“Deus querido, ajuda-nos, como pais, a vivermos vidas que valham a pena ser imitadas pelos nossos filhos e dá-nos coragem para convidá-los a serem nossos imitadores.”

Vinicios Torres

Vinicios Torres

Aniversário de Casamento

Eu e minha esposa comemoramos 26 anos de casamento semana passada. Foram tempos de alegrias, dificuldades, sonhos realizados e outros ainda não, e muito trabalho.

Pensando no que nos permitiu chegar a esta marca, que está cada dia mais difícil de encontrar casais que também chegam lá, imagino alguns motivos.

O primeiro, e mais importante no meu ponto de vista, é que abrimos mão de buscar a satisfação pessoal em primeiro lugar e buscamos a satisfação do outro e da família. Cada um de nós abriu mão de sonhos e desejos, que certamente poderiam ser conseguidos, para investir nos filhos e um no outro (1 Co 10:24).

O segundo é que mantivemos valores que nortearam nossos comportamentos e decisões (Lc 10:27). A prioridade na saúde e educação dos filhos, por exemplo, foi um valor que nos levou a tomar decisões que, se por um lado limitaram algumas coisas, por outro nos dá enorme satisfação ao ver os resultados na vida de filhos que se mantém íntegros e cheios de possibilidades. Os mesmos valores nos impediram de tomar “atalhos” ou aceitar “negócios” que poderiam comprometer a nossa integridade.

O terceiro é que apesar de errarmos um com o outro, de termos tempos de dificuldades no relacionamento, mantivemos a consciência alerta de que deveríamos perdoar e esperar o trato de Deus na vida um do outro (Ef 4:32). Descansamos no fato de que não importa o quanto um tente mudar o outro, se a motivação da mudança não vier do coração não surtirá efeito duradouro. Só Deus pode mudar o coração do ser humano.

O quarto é que continuamos a dizer “eu te amo” um ao outro todos os dias, mesmo naqueles em que nossas emoções parecem não condizer com a frase. Fazemos isso porque decidimos amar independentemente das circunstâncias, dos sentimentos, do saldo da conta bancária ou da previsão do tempo. Sabemos que todos os problemas e dificuldades são transitórios, mas o amor permanece (1 Co 13:8).

Como disse o apóstolo Paulo, “não julgamos ter alcançado, mas prosseguimos para o alvo” (Fp 3:13,14) pois ainda há muitos anos e desafios a frente.

Vinicios Torres

Mário Fernandez

Basta

“Porque basta o tempo decorrido para terdes executado a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções, concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e em detestáveis idolatrias.” (1 Pedro 4:3 ARA)

Curiosamente, em meio a uma leitura meditativa das Escrituras uma palavra ou outra salta aos olhos da gente de maneira única. Neste caso, como estou lendo as cartas de Pedro, foi aquele “basta”.

Basta significa que chega, que foi o suficiente, que não precisa mais, que está lotado ou completo. Num certo sentido é o fim de algo, por vezes, literalmente. Neste texto em particular eu vejo muito fortemente o sentido de que chegou o tempo de mudar, não se admite mais continuar como estava. Esse tempo passado teve sua vez e acabou, passou, foi suficiente, “basta”. Será que compreendemos isso aplicado ao nosso cotidiano? Será que entendemos que é o Senhor quem nos sustenta mesmo que tenhamos um trabalho ou fonte de renda “comum”? Será que está claro para nós que estamos falando de modo de vida e não de religião?

É preciso entender que o cristão não é caracterizado por frequentar uma igreja, ou por dar dízimo, ou fazer orações e nem mesmo por tê-las atendidas. Um cristão é marcado por nascer de novo e viver uma vida imitando a Cristo. Afinal, cristão = imitador de Cristo. Portanto, como disse o apóstolo Pedro, precisamos tomar consciência de que basta a velha vida e seus maneirismos.

Provavelmente muitos responderão dizendo que nasceram de novo e o importante é a essência e o ser interior, com o que obviamente concordo. Mas note que o texto desta carta fala de atitudes práticas que devem evidenciar esse ser interior renovado, ou na retórica de Pedro, as que evidenciam sua falta e devem ser evitadas. Nosso desafio é viver de modo que mostremos o que somos por dentro sem precisar de visão de Raio-X.

“Pai, obrigado por me ensinar nesta carta que eu preciso renovar minhas atitudes para evidenciar minha vida renovada. Te agradeço por tanta riqueza numa carta tão simples.”

Mário Fernandez

Mário Fernandez

Escondido

“Perguntou-lhe Natanael: Donde me conheces? Respondeu-lhe Jesus: Antes de Filipe te chamar, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira. Então, exclamou Natanael: Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel!” (João 1:48-49 ARA)

Quando chegar na Glória quero perguntar para Natanael sobre esse lance da figueira. O que será que o varão fazia ali de tão sério que o levou a tal quebrantamento quando Jesus disse que o viu…

Alguns especulam que ele orava e clamava pela libertação de Israel, outros dizem que ele estaria fazendo algo realmente pecaminoso, enquanto para alguns outros ele duvidava de Deus e pediu uma prova. Não importa, realmente, pois o ensino central é que Jesus conhece os fatos, conhece o nosso coração e sabe qual a palavra que vai nos desmontar. Ainda bem que Natanael ouviu e acreditou, pois às vezes me parece que vivo no meio de uma geração de surdos. E parece ser contagioso, pois quando me dou por conta também não estou escutando muita coisa. É uma disciplina diária e contínua me manter sensível e o resultado ainda assim deixa a desejar.

Se para este israelita o impacto de uma palavra como esta foi tão grande, temos de aprender alguma coisa. Aquilo que só Jesus conhece a nosso respeito, aquilo que talvez nunca quiséssemos que viesse à tona, talvez até mesmo aquele pedido que nunca saiu da nossa mente – tudo isso deve servir como forma de confirmação de nossa fé e para nos fortalecer em Cristo. Não pode ser motivo de tormento, acusação ou inquietude.

Eu diria ainda mais: não deve ser necessário que seja denunciado para que seja abandonado. Aquilo que nos envergonha ou dificulta cumprir o chamado de Deus, deve ser voluntariamente abandonado e cicatrizado, sem que seja necessário um escândalo para isso. O caso de Natanael pode não ter sido neste sentido, mas aquele homem foi balançado. Devemos nos endiretar diante de Deus enquanto podemos, pois se for revelado pode ser pior.

Natanael adorou a Deus, devemos aprender com ele. Nosso desafio é buscar no Senhor aquilo que só Ele pode nos dar.

“Pai, assim como Natanael eu reconheço que Jesus é Teu filho, meu Rei, meu Salvador. Ajuda-me a endireitar meus caminhos, ações, reações e pensamentos diante de Ti, sem precisar ser revalado.”

Mário Fernandez

Vinicios Torres

Construa Sua Cela

Acompanho as notícias do trabalho da missão Portas Abertas desde meus tempos de adolescente (e olha que já faz tempo!). Recentemente, recebi um e-mail com o seguinte texto:

“Wang Mingdao foi o pastor e evangelista mais famoso da China. Ele ficou 23 anos na cadeia por crer em Deus. Durante uma entrevista, um jornalista da Portas Abertas lhe fez a seguinte pergunta:

– Nunca serei posto numa cadeia como o senhor. Como a sua fé pode impactar a minha?

Depois de refletir um pouco sobre o assunto, Mingdao respondeu:

– Quando me prenderam, fiquei arrasado. Eu desejava realizar cruzadas evangelísticas pela China; queria estudar minha Bíblia e escrever mais sermões. Mas, em vez de servir a Deus dessas formas, vi-me sentado sozinho numa cela escura. Não podia usar o tempo para escrever livros – não tinha papel e caneta. Não podia estudar a Bíblia e preparar sermões; tiraram a minha Bíblia de mim. Eu não tinha uma pessoa sequer a quem testemunhar, porque o carcereiro apenas empurrava minhas refeições pela porta da cela. Tudo o que me dava sentido como obreiro cristão fora tirado de mim. Eu não tinha nada a fazer. Nada, exceto conhecer Deus. E durante vinte anos aquele foi o melhor relacionamento que tive. Fui jogado numa cela, mas você terá de jogar-se numa. Você mesmo precisa construir uma cela para poder fazer por si próprio o que a perseguição fez por mim: simplificar sua vida e conhecer Deus.”

Extraído do livro A fé que persevera.

Conheça mais sobre a missão Portas Abertas:

https://https://www.portasabertas.org.br

Vinicios Torres